Durante a gestação o corpo da mulher sofre diversas mudanças para que o desenvolvimento fetal ocorra de forma perfeita, e é claro que os hormônios não ficariam de fora dessas alterações. Para que ocorra o desenvolvimento saudável do feto os hormônios da tireoide têm papel fundamental desde o momento da fecundação.
As disfunções da tireoide na gestação podem trazer algumas complicações, como aumento do risco de baixo peso, hipertensão materna, aborto e parto prematuro.
Quais são os fatores de risco para alteração da tireoide na gravidez?
Algumas mulheres têm maior risco de doenças tireoidianas e devem ficar atentas, são elas:
- História pessoal ou familiar de doença tireoidiana ou anticorpos contra tireoide
- História pessoal ou familiar de doença autoimune (diabetes tipo 1, lúpus, gastrite autoimune, vitiligo, artrite reumatoide, entre outras)
- Sinais ou sintomas de hipotireoidismo ou hipertireoidismo
- Possível diminuição da reserva tireoidiana (história prévia de radioterapia cervical, tireoidectomia)
- História de aborto, parto prematuro ou dificuldade de engravidar
- Uso prévio de medicações como lítio, amiodarona ou contrastes
Hipotireoidismo e gestação
O hipotireoidismo na gestação tem prevalência que varia em cada país, porém estima-se que fique entre 0,3% e 25%.
Como surge o hipotireoidismo na gravidez?
Nas primeiras semanas de gestação, a tireoide da mãe é mais exigida do que o normal, pois o bebê ainda não produz seu próprio hormônio tireoidiano e ele é necessário para a correta formação do sistema neurológico do feto; esta adaptação ocorre de forma natural, porém em algumas mulheres (principalmente aquelas com fatores de risco), a tireoide pode “não dar conta do recado”.
Quais os riscos do hipotireoidismo na gravidez?
Vários são os efeitos do hipotireoidismo NÃO TRATADO para as mães e seus bebês: hipertensão gestacional, pré eclâmpsia, placenta prévia, anemia, hemorragia pós parto, prematuridade, baixo peso ao nascer, sofrimento fetal e aborto.
Qual o tratamento do hipotireoidismo na gravidez?
Em geral, o tratamento do hipotireoidismo gestacional ocorre de forma tranquila com a reposição do hormônio tireoidiano, a levotiroxina (T4).
Pacientes que já tenham hipotireoidismo antes da gestação, devem consultar seu endocrinologista já no período pré concepção para adaptação da dose da medicação às novas metas; nesses casos, de um modo geral, precisamos aumentar a dose do T4.
Hipertireoidismo e gestação
A prevalência de hipertireoidismo (excesso de hormônio tireoidiano) na mulher grávida varia de 0,05% a 0,2%.
Como realizar o diagnóstico de hipertireoidismo na gravidez?
É importante destacar que cerca de 15% das gestantes normais apresentam TSH suprimido ou abaixo da faixa da normalidade no primeiro trimestre da gestação, cursando com uma alteração que chamamos de Tireotoxicose Gestacional Transitória; além disso, muitos sintomas de hipertireoidismo se confundem ao da gestação, como intolerância ao calor, sudorese, cansaço, ansiedade e taquicardia. Por isso, o diagnóstico muitas vezes pode ser difícil, exigindo muita cautela do endocrinologista e do obstetra.
Quais os riscos do hipertireoidismo na gravidez?
Vários são os efeitos do hipertireoidismo NÃO TRATADO para as mães e seus bebês: aborto, doença hipertensiva da gravidez, parto prematuro, insuficiência cardíaca congestiva materna, descolamento de placenta, prematuridade, bebê pequeno para a idade gestacional, morte fetal e hipotireoidismo/hipertireoidismo/bócio no bebê.
Qual o tratamento do hipertireoidismo na gravidez?
O tratamento do hipertireoidismo na gestação é realizado com medicações, quando necessário. As medicações de escolha são o propiltiouracil e o tapazol, porém o tapazol não deve ser utilizado no primeiro trimestre de gestação. Além delas, podemos utilizar betabloqueadores no tratamento sintomático da tireotoxicose.
Pacientes que já têm diagnóstico de hipertireoidismo antes da gestação podem necessitar de ajuste ou troca da medicação nesse período.
Fonte: O essencial em Endocrinologia. Patricia Sales, Alfredo Halpern, Cintia Cercato. 1 ed – Rio de Janeiro: Roca, 2016.